Portugal pequenino Minha sereia comprometida Na dualidade das serras e do oceano No linguarejar cantado de uns Arrastado de outros De erres pronunciados De vogais finais inaudíveis De redes de pesca Mescladas de bois potentes Na lavoura de outros dias Intervalada por serões De Xailes negros E mulheres feiticeiras A carregarem a noite Nas traves do Fado
Portugal pequenino Das naus corajosas a descobrirem Horizontes Dos sonhos de grandeza em terras De Além-Mar Das vozes viúvas, órfãs de fé Em cais de angústia Dos filhos, dos maridos Que um regime exilou Das procissões imensas a alumiarem As ruas com velas de promessas Das conversas à margem da lei Nos cantos nem sempre livres dos cafés Dos livros passados em segredo De mão em mão Dos encontros clandestinos A tecerem manobras de construção De uma liberdade nova Para um povo amordaçado
E o destino cumpriu-se E sonhámos ser asas Pão, educação para todos Dignidade e paz Mas sossegámos demais Confiámos, inocentes Que o rumo permaneceria E não vimos os sinais Deixámos que os filhos E os netos dos algozes do passado Se infiltrassem nas malhas da democracia Que se emparceirassem com os seus iguais Para minar as nossas vidas Nos meandros da economia Nas parcelas do poder Roubadas sob a nossa desatenção A nossa apatia A nossa vontade de acreditar Que Abril fluiria sempre
E agora, meu Portugal pequenino Voltámos a chorar a ausência Dos nossos descendentes que emigram A dor de não sabermos como pagar As nossas contas A tristeza de vermos a nossa soberania Refém de sentenças estrangeiras A raiva de nos sentirmos assolados Por uma corrupção a que a justiça Não põe cobro
Portugal, meu Portugal pequenino É urgente que as tuas gentes inundem as Praças Que os nossos gritos sejam farpas Que o nosso hino traje de novo A transparência desejada O fim dos conluios que nos arruínam A solidez da veracidade nos caminhos
Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor e Antologia 40 Anos, 40 Poemas) 28-07-2013
Portugal, meu amor Meu destino por cumprir Sebastião amordaçado na memória Mensagem num horizonte sempre longínquo Gaivota triste em cais de fome
Portugal, meu amor Minha pátria dos que partem E dos que esperam Por melhores dias Que tardam em chegar
Portugal, meu amor Das gentes desavisadas Das gentes desabituadas Da coragem de dizer NÃO
Portugal, meu amor Do povo amortalhado em tristeza Confuso no seu viver dos dias Que chora para dentro Envergonhado demais para confessar a dor
Portugal, meu amor Liberta-te do Fado Solta o teu grito Dobra novamente o Cabo das Tormentas Constrói a Boa Esperança com afirmação Derrota os conformismos malfazejos Os brandos costumes Cabresto infame da razão e do caminho Silêncio de vítima por preencher com vontade E determinação
Portugal, agarra a hora É sempre mais tarde Mas nunca é tarde demais
Portugal pequenino Minha sereia comprometida Na dualidade das serras e do oceano No linguarejar cantado de uns Arrastado de outros De erres pronunciados De vogais finais inaudíveis De redes de pesca Mescladas de bois potentes Na lavoura de outros dias Intervalada por serões De Xailes negros E mulheres feiticeiras A carregarem a noite Nas traves do Fado
Portugal pequenino Das naus corajosas a descobrirem Horizontes Dos sonhos de grandeza em terras De Além-Mar Das vozes viúvas, órfãs de fé Em cais de angústia Dos filhos, dos maridos Que um regime exilou Das procissões imensas a alumiarem As ruas com velas de promessas Das conversas à margem da lei Nos cantos nem sempre livres dos cafés Dos livros passados em segredo De mão em mão Dos encontros clandestinos A tecerem manobras de construção De uma liberdade nova Para um povo amordaçado
E o destino cumpriu-se E sonhámos ser asas Pão, educação para todos Dignidade e paz Mas sossegámos demais Confiámos, inocentes Que o rumo permaneceria E não vimos os sinais Deixámos que os filhos E os netos dos algozes do passado Se infiltrassem nas malhas da democracia Que se emparceirassem com os seus iguais Para minar as nossas vidas Nos meandros da economia Nas parcelas do poder Roubadas sob a nossa desatenção A nossa apatia A nossa vontade de acreditar Que Abril fluiria sempre
E agora, meu Portugal pequenino Voltámos a chorar a ausência Dos nossos descendentes que emigram A dor de não sabermos como pagar As nossas contas A tristeza de vermos a nossa soberania Refém de sentenças estrangeiras A raiva de nos sentirmos assolados Por uma corrupção a que a justiça Não põe cobro
Portugal, meu Portugal pequenino É urgente que as tuas gentes inundem as Praças Que os nossos gritos sejam farpas Que o nosso hino traje de novo A transparência desejada O fim dos conluios que nos arruínam A solidez da veracidade nos caminhos
Do Abril mágico da minha pré-adolescência Ficou a distância a alongar-se em dor e revolta Por ter acreditado que as portas se tinham aberto Que os presos vítimas do regime de mordaça Tinham sido libertados Que o povo tinha voz
Do Abril ao longe Que em cada dia que passa Marca mais a ausência Ficaram janelas nas nossas almas Agora novamente gradeadas De medo e angústia
Do Abril quase irreal Ficou-nos a consciência triste Feita de cumplicidade de um povo desatento Que permitiu aos algozes da democracia Estenderem as suas raízes canibais No solo do nosso país pequenino e lindo
Do Abril guardado no peito Ficaram as mãos inocentes de sangue A empreenderem combates com as armas de outrora Que talvez já não nos sirvam para abrir caminho
Do Abril que teremos de fazer acontecer Não ficarão cravos nem canções Será ainda e sempre verdade Que O Povo Unido Jamais será vencido?
Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor) 21-04-2013