Balanço-me Entre Dois mundos
Balanço-me entre dois mundos
Duas línguas
Duas paisagens
Duas culturas
Um regresso anunciado
A algo em que não acredito
Um recanto de uma casa de quinta
Que era o paraíso dentro de mim
E onde o jardim me convidava a ler
Ou descansar sob a sombra amiga da cerejeira
Talvez os netos pulassem por entre o meu silêncio
Talvez eles quebrassem o vidro da torre invisível
Em que há muito me encerrei
Talvez eles rasgassem em mim
Véus de ternura e cuidado adormecidos
Talvez na sala houvesse uma cadeira de baloiço
À minha espera, junto à lareira nas noites de invernia
Mas não há tal casa e a cerejeira só permanece frondosa
Nas latitudes do meu sonho de menina que nunca abandonei
São errâncias do desejo, memórias fragmentadas de outros dias
Rumos esquecidos, páginas viradas, queimadas sob o sol dos anos
Nós que o tempo nunca logrou desfazer
Balanço-me intermitentemente entre fronteiras reais e imaginárias
De braços humildemente estendidos para um horizonte indistinto
Em que apenas quero ver futuro
Ana Wiesenberger (in Corredores)
25-10-2013
Imagem – Marie Laurencin