A astrologia não me ajudou
A astrologia não me ajudou
A ciência não me ajudou
Talvez, Deus tenha tentado fazê-lo
Porém, encontrou a minha distracção
E ela inviabilizou-lhe o caminho
E depois, com tantos bonzinhos por aí
A fazerem caminhadas de fé
Gulosos pela misericórdia e pela salvação
Deus deve andar muito sobrecarregado
Os cães têm-me ajudado
São incansáveis – os verdadeiros anjos
Que nos é dado sentir e confirmar
Há sempre novas feridas a desgraçarem
A epiderme da alma
Eles tentam curá-las com a força do amor
Porém, há quem já esteja para além de tudo
E se transforme numa chaga pútrida
Em verdade vos digo
Os tortos ficam cada vez mais tortos
E os direitinhos roubam-nos o direito
De estar à mesa da nossa existência
Como se a dignidade fosse um cinto
Que se comprasse nas lojas de marca
Divertem-se a expor o pus dos nossos dias
E dos nossos gestos
Para mascarar a pobreza das emoções das suas vidas
Tão falsas, de engomadas
Como a roupa e as decisões que vestem as suas horas
Resta-nos o ilusionismo dos desejos
As máscaras com que brincamos
Na alegria triste de sabermos
Que a cada passo, estamos mais sós
E mais perdidos
Frágeis como bolas de sabão
A enfrentar o vento das aparências
Ana Wiesenberger
16-09-2015
Imagem – Jackson Pollock