De dia mantenho-me apolínea
De dia mantenho-me apolínea
De noite o vazio convida Dionísio
E a dor derruba toda a construção
E neste baile enamorado
De vida e morte
Ordem e desordem
Passam semanas, meses e anos
Só os sulcos no meu rosto
Cada vez mais ausente
Denunciam a tragédia real
Que coabita diariamente
Com a minha sede de harmonia
Com o meu desejo de amar a força dos dias
E deste contínuo cair e erguer-me
Desta luta em que venço e sou vencida
Fica-me o estremecimento matinal
De medo e cansaço decorrente da consciência
De ter de cumprir mais uma jornada
Que mesmo sendo diferente, será igual
Adormecerei mais tarde como ontem
Como sempre
Pálida de angústia e frustração
Só e enclausurada neste moinho que me destrói
E me leva em cada volta para mais longe de mim
Ana Wiesenberger
24-07-2015
Imagem – Vladimir Kush