Raramente Choro
Raramente choro
E no entanto, quando o faço
Pareço querer transformar o Tejo e o Sado
No Amazonas
As lágrimas não trazem alívio
Destroem pestanas
Deixam os olhos inchados
E no dia seguinte, fazem-nos sentir pior
Ao vermos a ruína em que a tempestade
Transformou os nossos rostos
Não sei, porque elas me acontecem
Há tanta dor reunida em dias de olhos secos
Chego a pensar, que são matreiras
E esperam pelo momento
Em que baixamos a guarda à tristeza
Só porque a ela já nos habituámos
Sempre achei, que Hemingway tinha razão
A man can be destroyed but not defeated
Daí, as guerras não terem fim
E as vidas tortuosas se alongarem
Em vez de se extinguirem
Dobradas sob a desesperança dos dias
Hoje à noite chorei
Mas já untei as pálpebras e as bochechas
De creme reparador
Não me apetece empanturrar-me de realidade
Antes de tomar o pequeno-almoço
É pena, que ainda não inventassem
O sérum perfeito para compor
As mossas e as marcas do desassossego na alma
Ana Wiesenberger
06-01-2017
Imagem – Pablo Picasso