Porque Não Me Percebes
Porque não me percebes
Porque nunca entendes
As palavras que te estendo
As frases que te dou
É tudo pueril
É tudo supérfluo
Não conseguimos abrir
As nossas cabeças aos outros
As nossas emoções
Os nossos medos
A solidão a pesar sobre os ombros
A angústia, o mal-estar a transtornar-nos o dia
É como um anel demasiado apertado no dedo
Que só talvez se aparte de nós
Quando a vida também o fizer
Provavelmente nada é partilhável
Talvez, sejamos todos
Tão diferentes de tão iguais
Tão isolados e tão estupidamente próximos
Náufragos de ilusões
Na nossa grande pequenez
De querermos ser alguma coisa com sentido
E ficarmos sempre aquém da meta
Ou pior, remetidos a uma imbecilidade satisfeita
De quem não se vê e se imagina grande
A encher os olhos dos outros com uma admiração
Que só existe na sua cegueira covarde
Se houvesse algo que pudéssemos partilhar
Nos ecos dos dias
Deixaríamos de ser estranhos
Empacotados em embalagens semelhantes
Nas prateleiras dispersas da mesma época
Ana Wiesenberger
23-05-2015
Imagem – Henri de Toulouse-Lautrec