Os Meus Poemas São Pássaros
Os meus poemas são pássaros
Que se soltam da gaiola do meu peito
Com sede de horizontes
E fome de ecos correspondidos
São tão livres
Que esvoaçam pela casa
À procura de janelas abertas
E quando os quero rever
Já nem todos respondem
Ao meu chamamento materno
Uns são pardais desengonçados e tontos
Gerados numa fantasia-ponte
Para um universo multicolor
Outros são corvos elegantes
A picarem o espaço frio
Para darem corpo
À minha invernia constante
Há também, as garças graciosas
Que se alojam à beira dos lagos
Em busca da harmonia
De uma paisagem cinzelada
De uma beatitude burguesa
E depois, há os gaviões e as corujas
Os primeiros em urgências de insurreição
Os segundos fechados numa conspiração
De quem sabe mais
Do que partilha
E eu que os amo a todos
Nas migalhas do meu tempo
Que se esvai
Fico, às vezes, a marejar o ar, triste
Na angústia de não lhes conhecer
O paradeiro
Ana Wiesenberger (in Corredores)
Imagem - Franz Marc