Portugal, Meu Amor
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1º de Maio
Como pode este dia
De luta e dor
De sangue derramado
De angústia pelo que falta cumprir
Ser apenas colhido
Como um pretexto para convívio
Entre amigos
Com a bestialidade da ausência de consciência
Servida em copos e pratos
Grades para o que se passa em redor
Sei que as imagens da minha infância
Já não se repetem
Não há multidões a dispersarem de S. Bento
Perseguidas pelos cassetetes da polícia
E os cães instrumentalizados para induzir o terror
Mas o medo voltou com outro rosto
O povo teme a espiral de perda crescente
Destes últimos anos
Os postos de trabalho, os direitos adquiridos
Agora espezinhados, anulados, estropiados
Pela hegemonia das altas finanças
Pela especulação bárbara que só serve as minorias
Engordadas com o nosso suor, o nosso esforço
As nossas vidas malbaratadas
Presas sem esperança nas malhas da corrupção firme
Que não perece sob o punho da justiça
As mulheres e as crianças continuam a ser os mais fracos
Salários mutilados pelo género
Violência consumada entre portas
Porque os seus homens covardes trazem a ira e a frustração
Para casa, em vez de lhes dar voz na praça pública
As crianças mal alimentadas
Sofrem no quotidiano o corte nos salários, o desemprego
E as pensões irrisórias dos avós
Hipotecam precocemente o futuro
Depauperadas pelo mal-estar na família, tristes, revoltadas
Incapazes de abarcar a aventura do aprender
Por isso, neste 1º de Maio
Que muitos festejam além-fronteiras
Exilados pela necessidade de sobreviver
Talvez fosse apropriado, reflectirmos
Será este o Portugal que desejamos ter?
Ana Wiesenberger
01-05-2015
Imagem - Diego Rivera
Passos quebrados
Rostos tristes
Olhar nu de esperança
Assim vai o meu povo
Vergado a injustiças
Sebentas do passado
Renovadas, mascaradas
Num registo de democracia
É preciso inventar um caminho
Mas só a luz da clareza
Da informação e da denúncia
Nos poderão levar a outro rumo
Se permanecermos alheios aos conluios
Nas trevas da incerteza e da indiferença
Nunca seremos mais do que animais inocentes
Condenados a destinos vis
Sempre na rota de um matadouro imenso
Onde desaguam a falência dos nossos sonhos
E daqueles que nos são queridos
É fundamental, não cedermos ao cansaço
E à dormência
Que nos faz fechar os olhos na agonia
De quem já sente
Que nada vale a pena
Ana Wiesenberger
21-08-2014
Imagem – Diego Rivera
Portugal pequenino
Minha sereia comprometida
Na dualidade das serras e do oceano
No linguarejar cantado de uns
Arrastado de outros
De erres pronunciados
De vogais finais inaudíveis
De redes de pesca
Mescladas de bois potentes
Na lavoura de outros dias
Intervalada por serões
De Xailes negros
E mulheres feiticeiras
A carregarem a noite
Nas traves do Fado
Portugal pequenino
Das naus corajosas a descobrirem
Horizontes
Dos sonhos de grandeza em terras
De Além-Mar
Das vozes viúvas, órfãs de fé
Em cais de angústia
Dos filhos, dos maridos
Que um regime exilou
Das procissões imensas a alumiarem
As ruas com velas de promessas
Das conversas à margem da lei
Nos cantos nem sempre livres dos cafés
Dos livros passados em segredo
De mão em mão
Dos encontros clandestinos
A tecerem manobras de construção
De uma liberdade nova
Para um povo amordaçado
E o destino cumpriu-se
E sonhámos ser asas
Pão, educação para todos
Dignidade e paz
Mas sossegámos demais
Confiámos, inocentes
Que o rumo permaneceria
E não vimos os sinais
Deixámos que os filhos
E os netos dos algozes do passado
Se infiltrassem nas malhas da democracia
Que se emparceirassem com os seus iguais
Para minar as nossas vidas
Nos meandros da economia
Nas parcelas do poder
Roubadas sob a nossa desatenção
A nossa apatia
A nossa vontade de acreditar
Que Abril fluiria sempre
E agora, meu Portugal pequenino
Voltámos a chorar a ausência
Dos nossos descendentes que emigram
A dor de não sabermos como pagar
As nossas contas
A tristeza de vermos a nossa soberania
Refém de sentenças estrangeiras
A raiva de nos sentirmos assolados
Por uma corrupção a que a justiça
Não põe cobro
Portugal, meu Portugal pequenino
É urgente que as tuas gentes inundem as Praças
Que os nossos gritos sejam farpas
Que o nosso hino traje de novo
A transparência desejada
O fim dos conluios que nos arruínam
A solidez da veracidade nos caminhos
Ana Wiesenberger (in Portugal, Meu Amor e Antologia 40 Anos, 40 Poemas)
28-07-2013
Portugal, meu amor
Meu destino por cumprir
Sebastião amordaçado na memória
Mensagem num horizonte sempre longínquo
Gaivota triste em cais de fome
Portugal, meu amor
Minha pátria dos que partem
E dos que esperam
Por melhores dias
Que tardam em chegar
Portugal, meu amor
Das gentes desavisadas
Das gentes desabituadas
Da coragem de dizer NÃO
Portugal, meu amor
Do povo amortalhado em tristeza
Confuso no seu viver dos dias
Que chora para dentro
Envergonhado demais para confessar a dor
Portugal, meu amor
Liberta-te do Fado
Solta o teu grito
Dobra novamente o Cabo das Tormentas
Constrói a Boa Esperança com afirmação
Derrota os conformismos malfazejos
Os brandos costumes
Cabresto infame da razão e do caminho
Silêncio de vítima por preencher com vontade
E determinação
Portugal, agarra a hora
É sempre mais tarde
Mas nunca é tarde demais
Ana Wiesenberger
14-03-2014
Imagem - Diego Rivera
Desejo que o Ano Novo
Aguce os sentidos do meu povo
Que ele possa estar mais atento à realidade
E não se deixe alienar pelas tabelas futebolísticas
E enredos de pacotilha no ecrã da sala
Desejo que o Ano Novo
Rasgue nas mentes a urgência de agir
A vontade de dizer NÃO
A capacidade de investir contra o logro
A coragem de saber ver, ouvir, ler
E desmantelar as tramas a que nos sujeitam
Desejo que o Ano Novo
Alumie nos nossos semblantes
A fome da verdade
A necessidade de condenar a mentira
A força de lutar pela afirmação do nosso valor
De ser hino e de ser História
Desejo que o Ano Novo
Faça crescer em nós a empatia
A consciência de sermos irmãos na fome e na dor
E nos dê a solidariedade veemente
Para sermos nobres nos corações
E coniventes nas acções do quotidiano
Desejo que o Ano Novo
Seja água primordial que lave dos nossos olhos
Das nossas mãos, dos nossos corpos
A poeira da covardia, da demissão de ser e fazer
E fortaleça nas nossas almas
A convicção da nossa responsabilidade cívica
Da premência de intervir sem medos
E não pactuar com a injustiça e o esmagamento
Dos mais fracos
Desejo que o Ano Novo
Não seja a perpetuação do mal a acontecer
Ao nosso lado indiferente, acomodado ou desatento
Que depois nos surpreende em títulos dolorosos
De pedofilia, violência familiar, maus tratos e abandono;
Seres humanos e animais ultrajados na sua condição
Vergados a pulsões doentias de quem só ama a morte
E a destruição
Desejo que o Ano Novo
Signifique nas nossas vidas
Um verdadeiro despertar
Para a dimensão de SER
Ana Wiesenberger
31-12-2013
Imagem - Thomas Moran
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Espero que se sentem à mesa em harmonia
Enquanto a discórdia feita de miséria
É o quotidiano de muitos de nós
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Espero que se sentem à mesa
Felizes pela companhia
Enquanto a dor alastra nas famílias
Em que um membro pôs termo à vida
Vítima da faca aguçada das vossas medidas
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Espero que se sentem à mesa
De rostos afogueados pelo calor da sala
Enquanto as ruas estão apinhadas de sem-abrigo
E muitos já as adivinham como próximo destino
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Espero que se sentem à mesa
De narinas exaltadas pelos vapores da gastronomia
Enquanto os Portugueses medem as fatias e as colheradas
Da consoada que as mães e as esposas conseguiram reunir
A medo
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Espero que se sentem à mesa
De olhos cheios pela alegria das vossas crianças
Que desembrulham presentes em abundância
Enquanto as outras se conformam com a ausência
Talvez tivessem vivido acima das suas possibilidades
Comportaram-se mal e agora o Pai Natal castigou-as
Feliz Natal, Senhores Governantes!
Que a ceia vos saiba a sangue e a morte
Que os manjares copiosos deglutidos
Vos dêem nos pesadelos
A premonição do vosso fim que chegará
Ana Wiesenberger
15-12-2013
Imagem - tirada do google
Portugal pequenino
Minha sereia comprometida
Na dualidade das serras e do oceano
No linguarejar cantado de uns
Arrastado de outros
De erres pronunciados
De vogais finais inaudíveis
De redes de pesca
Mescladas de bois potentes
Na lavoura de outros dias
Intervalada por serões
De Xailes negros
E mulheres feiticeiras
A carregarem a noite
Nas traves do Fado
Portugal pequenino
Das naus corajosas a descobrirem
Horizontes
Dos sonhos de grandeza em terras
De Além-Mar
Das vozes viúvas, órfãs de fé
Em cais de angústia
Dos filhos, dos maridos
Que um regime exilou
Das procissões imensas a alumiarem
As ruas com velas de promessas
Das conversas à margem da lei
Nos cantos nem sempre livres dos cafés
Dos livros passados em segredo
De mão em mão
Dos encontros clandestinos
A tecerem manobras de construção
De uma liberdade nova
Para um povo amordaçado
E o destino cumpriu-se
E sonhámos ser asas
Pão, educação para todos
Dignidade e paz
Mas sossegámos demais
Confiámos, inocentes
Que o rumo permaneceria
E não vimos os sinais
Deixámos que os filhos
E os netos dos algozes do passado
Se infiltrassem nas malhas da democracia
Que se emparceirassem com os seus iguais
Para minar as nossas vidas
Nos meandros da economia
Nas parcelas do poder
Roubadas sob a nossa desatenção
A nossa apatia
A nossa vontade de acreditar
Que Abril fluiria sempre
E agora, meu Portugal pequenino
Voltámos a chorar a ausência
Dos nossos descendentes que emigram
A dor de não sabermos como pagar
As nossas contas
A tristeza de vermos a nossa soberania
Refém de sentenças estrangeiras
A raiva de nos sentirmos assolados
Por uma corrupção a que a justiça
Não põe cobro
Portugal, meu Portugal pequenino
É urgente que as tuas gentes inundem as Praças
Que os nossos gritos sejam farpas
Que o nosso hino traje de novo
A transparência desejada
O fim dos conluios que nos arruínam
A solidez da veracidade nos caminhos
Ana Wiesenberger
28-07-2013
Imagem - internet
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