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querotrazerapoesiaparaarua

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Começo O Dia A Espiar As horas No Relógio de Pulso

 

pablo Picasso - Face

Começo o dia a espiar as horas no relógio de pulso
E a afastar a noite de dentro de mim
Salpicos de vazio do ontem, ainda a estorvarem-me
Na mira da Casa de Partida

 

A perna esquerda, pelo menos está viva
Tenho a certeza porque me dói
E desato a rir do absurdo de me lembrar
Que o povo assume os ossos
Como cérebros da meteorologia

 

Engulo o café, entranho o fumo do cigarro
Mais um e juro, que me vou erguer da cama
É domingo, aquele dia meio estúpido
Que nem é início nem fim de semana
É só uma voz inquietante a censurar-nos
Por não termos aproveitado as horas livres
Como devíamos
E a acenar-nos com a segunda-feira dura de roer

 

É desta! Espreguiço-me
O hálito esquisito ainda não convida a pequeno-almoço
Mais tarde, daqui a pouco já como
E vem-me à memória súbita, o tempo em que conseguia
Deglutir uma tigela de cereais, logo ao despertar

 

O tempo é um escultor ou uma bomba química, hostil
Que destrói as nossas capacidades?
Olhamo-nos ao espelho e temos de lavar a cara
Aquele estranho(a) diante de nós
Para onde terá ido o meu rosto, o meu sorriso?
Para onde terá ido a fome do meu olhar?

 

Ana Wiesenberger
19-04-2015

Imagem – Pablo Picasso

 

Escrevo Perante O Rosto da Noite

Edvard Munch - Melancholy

Escrevo perante o rosto da noite
Num hotel que de tão familiar
Me faz crescer em estranheza

Escrevo à luz do cansaço saudável dele
Que lhe permite dormir sem químicos
Virgem ao mundo dos fármacos
Em que os outros existem em On e Off

Escrevo na companhia do vinho tinto do copo
Que felizmente me dobra a loucura
Me afaga a solidão
E me diz, que devia encostar a cabeça à almofada
Como se eu fosse um cabritinho jovem e desajeitado
A quem a mãe explica a necessidade de descansar
No verde da planície para aguentar a jornada de amanhã

Escrevo na voragem dos que não têm companhia
Mas se fingem acompanhados pelas páginas dos outros
A que se agarram, desesperados de mitigar a sede endémica
Do deserto fabricado com a ausência consentida ao longo dos anos
Em que se afastaram dos demais

Este é o murmúrio das horas paradas
O rebuliço invisível do pântano
Em que os nenúfares moribundos
Nos pedem para calar os gritos de lodo

Esta é a noite que canta a uma só voz
A canção daqueles que por si ou por destino
São os desenraizados do bem-estar

Ana Wiesenberger
10-04-2015

Imagem - Edvard Munch

 

 

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