Todos Somos Árvores

Todos somos árvores
Diz Raul Brandão em Húmus
E se assim for, em vez das sete idades
Do Homem de Shakespeare
Assumimos as quatro estações
Num calendário de vida
Como se a infância fosse a alegria
Da Primavera a despontar em nós
Uma multiplicidade de capacidades
Um rompimento verde a ganhar forma
Depois, na euforia do Estio
Já somos frondosas, vitais
E apetecíveis
Num esplendor de querer adulto
A amadurecer horas que parecem
Intermináveis
E contudo, o Outono apodera-se de nós
Aos poucos, sorrateiro
E transforma o nosso viço
Numa paleta mirabolante de ocres e castanhos
Que se despedem de nós numa carícia breve
Para abraçarem o solo
E por fim, a invernia consome-nos com ventos
Frios em hastes secas, tristes
Doentes terminais saudosos de Sol
Já destinados ao mundo das sombras
Mas o ciclo da Natureza perpetua-se
E as árvores, ao contrário de nós
Renovam o alento quando o tempo voltar a aquecer
Nós só o poderemos alcançar nos resquícios
Do nosso sopro na vontade dos que amámos
E foram próximos de nós
Ana Wiesenberger
20-12-2013
Imagem - Pedro César Teles